Economia:
A análise da conjuntura econômica brasileira desloca-se dos entraves associados à pandemia para as preocupações crescentes com o quadro de inflação mais pressionada ao longo do ano, e de seus efeitos para a política monetária. Os dados mais recentes confirmam o quadro observado nos meses anteriores, marcado pelo dinamismo da indústria e do agronegócio, mas por
retomada mais lenta do setor de serviços. O balanço de risco mais recente inclui a questão energética e a pressão de custos como limitações à velocidade da recuperação da atividade, ainda que a expectativa seja de maior dinamismo da economia no segundo semestre, em linha com o avanço da vacinação. Esse movimento reforça os sinais da autoridade monetária em direção ao ajuste normalizado da Selic, deixando de lado a visão do ajuste parcial, presente nas comunicações do Copom ao longo do primeiro semestre. As expectativas de inflação em alta aumentam a probabilidade de um ajuste mais forte já na próxima decisão.
Política:
A visão de que o problema fiscal foi controlado minimizou o impacto do cenário político na precificação dos ativos brasileiros. Não por acaso, o último mês foi marcado por forte valorização dos ativos, em linha com os movimentos da economia internacional. Os dilemas políticos domésticos
tiveram pouco impacto. Esse mundo não existe mais. A perda de capital do governo, resultado dos efeitos negativos da pandemia, pode antecipar um quadro de radicalização eleitoral e risco de populismo econômico. A acusação de corrupção no Ministério da Saúde deve promover uma perda adicional de popularidade do presidente. A perda de capital político e o escândalo de corrupção trouxeram de volta o debate sobre o possível impeachment presidencial. Por ora, a complexidade do esquema, envolvendo diversos grupos de apoio ao governo e as incertezas relativas à um novo governo limitam as chances de ocorrência. De todo modo, o impeachment é um resultado possível, o que leva o governo a operar com margem de manobra estreita.
