Economia
A economia brasileira navega em águas agitadas. O cenário internacional marcado por forte instabilidade, a partir dos conflitos entre EUA e China e por percepção de risco elevada por conta do dilema político na Argentina reforçou o dilema de recuperação econômica, seja pelo canal financeiro, seja pelo fluxo comercial. Além disso, o quadro político segue marcado pelos efeitos negativos da crise de credibilidade, resultado do comportamento mais recente do presidente Bolsonaro. A intensificação das tensões político-institucionais dificulta a transmissão da política para a economia, obstruída pela elevação na incerteza dos agentes econômicos. O cenário prospectivo aponta acomodação da tensão internacional no curto prazo. De todo modo, nossa avaliação é de que o conflito EUA-China é estrutural e, portanto, deverá manter a paisagem externa como importante fonte de risco para o Brasil. Esse cenário mais turbulento já teve efeito em termos de atividade. Os números do PIB no segundo semestre ficaram acima das expectativas de mercado, o que mantém a viabilidade da projeção de 0,9% para o ano, mas o viés ainda segue de baixa. A lenta retomada da economia brasileira mantém o cenário inflacionário bastante tranquilo, o que autoriza novas quedas na taxa de juros. Nossa leitura, contudo, é de que o quadro internacional turbulento limita a queda da Selic, que deve recuar para 5,00% até o final de 2019.
Política
A natureza do risco político ao longo da administração Bolsonaro passou por uma importante alteração no primeiro semestre. Os problemas centrais da análise de risco voltavam-se aos desafios da governabilidade, bem como do grau de apoio da agenda econômica no bolsonarismo. A crise dos partidos políticos e o ineditismo da vitória de Bolsonaro reforçavam os desafios da funcionalidade do presidencialismo de coalizão. A construção de um equilíbrio alternativo para sustentar a eficiência do sistema político brasileiro, então, trouxe o risco político de outra forma, a saber: redução da incerteza política. Dito de modo mais direto: os desafios impostos pela política são mais amplos do que a aprovação de itens legislativos da agenda econômica. Esse efeito em termos de percepção é extremamente importante em um ambiente de tensão internacional. Nossa avaliação é de que o cenário prospectivo deve ter uma ligeira acomodação. De todo modo, a magnitude desse movimento deve ser insuficiente servir de anteparo aos mares mais agitados do quadro internacional. O quadro político brasileiro é bastante curioso, sob o prisma da agenda econômica. A crise política-institucional em curso não se transformou em um cenário de paralisia decisória, a despeito da retórica e práticas centralizadoras por parte do presidente Bolsonaro. O cenário político segue marcado por bastante instabilidade por conta de decisões que envolvem o funcionamento das instituições, bem como agendas construídas sem devida atenção aos requisitos da legitimidade. A recente celeuma política em torno da questão ambiental é apenas mais um alarme de incêndio em relação ao modus operandi bolsonarista.