Os primeiros sinais da nova administração não autorizam um quadro animador para o destino das reformais estruturais. Os movimentos do presidente e dos seus principais interlocutores não sugerem respostas à altura dos dilemas com o Congresso.
O primeiro ponto refere-se à relativa timidez do novo governo em negociar uma coalizão legislativa em bases partidárias. Grosso modo, o DEM é o único partido que sinaliza um estreitamento com a nova administração. À primeira vista, a estratégia é construir apoio com base no capital político pessoal do presidente eleito, bem como na mobilização de apoio em torno da pauta conservadora.
Esse movimento está expresso na escolha dos nomes anunciados para alguns postos ministeriais. Em linhas gerais, os nomes escolhidos refletem a combinação de três atributos, nenhum dos quais contribuem positivamente para o gerenciamento do presidencialismo de coalizão: 1) “superministros” sem ligação com os partidos, 2) relacionamento com militares e 3) baixa experiência administrativa anterior.
A redução do número de pastas também deve impactar negativamente a construção de uma coalizão partidária com maioria para aprovar reformas constitucionais. A redução dos números de postos ministeriais reflete uma concentração de poder (orçamentário, de indicações partidárias), inibindo a força do “prêmio” que o governo irá oferecer ao seus aliados na aprovação de temas com custo político elevado.
Por outro lado, há dois elementos positivos no governo de transição. O primeiro deles se refere aos sinais de moderação diante da repercussão negativa em torno dos excessos e de eventuais exotismos na agenda governamental. É verdade que esse experimentalismo reflete a baixa experiência da nova elite governante, mas, ao menos, os mecanismos de alarme de incêndio parecem limitar o apetite da nova administração com pontos da agenda que expressam mais a versão candidato do novo presidente, do que passos positivos na luta pelas reformas.
A eventual permanência de nomes do atual governo na equipe econômica é outro sinal positivo para as reformas. Se confirmado, esse movimento deve minimizar os custos da transição em termos de agenda econômica. Um dos riscos centrais que o governo Bolsonaro deve evitar é não dar prioridade para a temática econômica.
O confronto entre aspectos positivos e negativos do governo eleito mantém a aprovação da reforma da Previdência no cenário básico. A variável política, uma vez mais, é que pode restringir o período de funcionalidade do presidencialismo de coalizão.