Em mais uma capítulo do “presidencialismo plebiscitário”, desenhado pela administração Bolsonaro, o presidente utilizou as redes para fazer críticas ao Carnaval. O exotismo do debate e a enorme repercussão tornam a análise da comunicação presidencial nas redes sociais essencial para desenhar o cenário político. Mais do que uma opinião isolada sobre os diferentes temas, o núcleo do Planalto utiliza as redes como parte da sua estratégia política.
As redes sociais tornaram-se central na análise do quadro político e eleitoral no Brasil e no mundo. As implicações para a democracia representativa são significativas e ainda estão se desenhando. Em tese, as manifestações das redes sociais são o substituto para a ideia de “povo”, ou seja, as redes sociais aparecem como a voz da sociedade. A classe política tradicional demorou a entender o efeito das redes. Não é a toa que os principais casos de uso com sucesso ocorrem por políticos de fora do mundo da política tradicional.
O governo Bolsonaro é fundamentalmente um governo marcado por polêmicas. Boa parte das celeumas da nova administração foi, paradoxalmente, construída pelo próprio núcleo familiar presidencial. Os comentários nas redes sociais, preocupados em proteger a imagem do presidente, por diversas vezes trouxeram quase sempre tensão com a classe política tradicional. A novidade das polêmicas carnavalescas foi o objeto da ação da comunicação presidencial. Ao polemizar o Carnaval, Bolsonaro não mais “cutucou” a classe política tradicional, mas mobilizou forte oposição no plano social. Esse tipo de agenda vai resultando em rachas nos diferentes setores da centro-direita.
A ideia fundamental era dar destaque para o plano moral dentro do debate da opinião pública, em linha com os sinais crescentes de perda de capital político. A estilização do debate é lugar comum nas discussões comportamentais. O presidente busca, na verdade, mobilizar a voz do seu eleitorado, especialmente diante da emergência de pontos da agenda negativa.
Reforçar o caráter moralizador da sua administração pode criar um fosso entre os diferentes setores do Bolsonarismo. Por ora, tal divisão ocorre no âmbito das elites políticas.
O risco político para a economia brasileira não deve ser menosprezado. A combinação entre derretimento dos partidos políticos com reputação nacional combinada ao estilo presidencial deve dificultar a criação de uma coalizão liberalizante ao longo do mandato, independentemente do destino da reforma previdenciária. O presidente é o ponto focal do sistema político brasileiro. Assim, é salutar que ele preserve sua imagem para dar força agenda econômica.